terça-feira, 27 de outubro de 2009

China

No final de julho de 2007 eu comecei a trabalhar numa fábrica de calçados infantis. Nunca pensei em criar para este público, apesar de amar crianças. Era um período de mudanças bruscas pra mim. Sempre fui freelancer e este era meu primeiro emprego fixo. No início estava completamente quadradona. Me adaptei rápido e logo tomei gosto pela coisa.

Parte da produção dessa fábrica é feita na China e eles mandavam um estilista por viagem. A primeira a ir, já em setembro, foi a minha amiga Mary. Em março de 2008 fiquei sabendo que eu era a próxima! Arrumei as minhas malas e fui junto a um dos chefes. Sabia que seria um trabalho pesado, mas só quando a gente chega vê que é bem mais do que se imagina. Trabalhar com os chineses não é tarefa fácil. A começar pela jornada diária. De segunda a segunda, das 8hrs da manhã até a hora que for possível. Às vezes dá 22/23hrs da noite e você ainda tá lá, consertando sapatos.

Eu falo consertar, porque é o que fazemos lá. O esquema é o seguinte: eu crio no Brasil o desenho que quero do calçado. Mando as fichas pra China e eles produzem as amostras. Quando chegamos lá, essas amostras já estão prontas. Nas três vezes que eu fui, precisei mudar quase 100% delas. Os chineses não acertam todas as cores, mesmo mandando o número do pantone, e eles quase nunca colocam o material que você pede. Ou parece um plástico mega vagabundo, ou colocam um tom fluorescente ou qualquer outra cor medonha que pra eles é lindo. Tudo que dá trabalho pra eles, ou que pode diminuir um pouco a produção eles cortam e não te avisam. Se você perceber e falar, ou eles fingem que não viram que precisava daquilo, ou tentam argumentar que aquilo fará o preço do par subir horrores. Balela pura.

Mas isso acontece mais em fábricas menores, onde a produção é menor, assim como a qualidade. Aí você precisa rebolar bastante. Ir pra rua e escolher material, acompanhar todos os passos dos modelistas e as costureiras na sala da amostra e às vezes se meter e botar a mão na massa. Visitei uma fábrica maior, que também tinha vícios de enrolação como as pequenas, mas que se pressionada da maneira certa, fazia calçados lindos. Essa, em Wenling, atendia clientes grandes como a Benetton e a Fisher Price.

Da primeira vez, cheguei por Pequim. Trabalhei em Guangzhou, Wenling, Sihui e Hong Kong. Da segunda, que foi em julho e agosto, visitei Guangzhou e Sihui, assim como da terceira vez, que foi em novembro e dezembro. Todas as vezes em 2008. Fui sozinhas nas duas últimas vezes. Foi mais desafiador, principalmente porque tive que pegar mais pesado com os chineses, já que pelo fato de não ter nenhum chefe por perto, eles tentavam me enrolar mais.

Todo o sacrifício valeu a pena, porque trouxe para a fábrica as melhores coleções de 1 a 4 que eles já tiveram até hoje. Palavras da diretoria.

Esses aqui são alguns poucos que trouxe:





































Esses são apenas alguns dos muitos que eu fiz. Não sei ao certo, mas pelas minhas contas de cabeço devo ter criado algo em torno de 500 pares de sapatinhos de bebê. Todos esses são de tamanhos que vão do 1 ao 4. Criei alguns maiores. Papetes, sandálias, mas apenas na primeira vez que eu fui.

Não são lindos?

Um beijo,
Marina.

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